
Nuno Pinto Afonso, vereador na Câmara de Sintra que saiu do Chega há um ano e encabeça lista da Alternativa 21 (Aliança-MPT), e Ossanda Liber, fundadora da Nova Direita, têm uma missão difícil: elegerem-se deputados por Lisboa. Em comum, o apelo à direita conservadora.
Ambos reconhecem que a missão não será fácil, pois desde 1976 eleger um deputado por Lisboa nunca implicou menos do que os 22.053 votos obtidos por André Ventura em 2019. Mas os cabeças de lista da coligação Alternativa 21 (Aliança-MPT), Nuno Pinto Afonso, e do recém-legalizado Nova Direita, Ossanda Liber, acreditam ser possível tornarem-se deputados a 10 de março, convencendo quem está desse lado do espetro político de que existe voto além da Aliança Democrática (AD) e do Chega.
Para Nuno Pinto Afonso, que antes da rutura com Ventura foi número 2 do Chega, enquanto vice-presidente e chefe de gabinete do grupo parlamentar, a receita para “captar todo o espaço da direita conservadora”envolve fazer passar a mensagem de que o partido que ajudou a fundar – e pelo qual se elegeu vereador da Câmara de Sintra, mantendo-se como independente, estatuto igual ao que tem nas listas da coligação – “não serve para nada a não ser para fazer barulho”.
Num vídeo que partilhou nas redes sociais, a anunciar a candidatura, Afonso descreveu o Chega como o partido “que, em quase cinco anos na Assembleia da República, não conseguiu aprovar uma única proposta e não conseguiu discutir de forma séria nenhuma das promessas que fez aos seus eleitores”. Aliás, o relacionamento com outros grupos parlamentares foi algo que o cabeça de lista da Alternativa 21 disse ao DN ter estado na origem de divergências com o líder do Chega: “Quem quer fazer passar propostas não pode querer que se sentem consigo aqueles a quem chamou corruptos e ladrões.”
Já para Ossanda Liber, que deu nas vistas nas autárquicas de 2021, com uma candidatura independente à Câmara de Lisboa que obteve poucos votos (864), mas serviu para a catapultar à vice-presidência do Aliança, o Nova Direita pretende oferecer ao eleitorado “um conservadorismo com coragem de falar abertamente sobre os temas”.
Além do “estado de inércia total desta AD que não entusiasma ninguém”, Liber procura eleitores que “não encontraram o que procuravam” no Chega. “Estamos a atrair todo o espetro da direita”, diz a líder do único novo partido nos boletins de voto – nos 18 círculos do continente e nos dois da emigração, ficando de fora nas regiões autónomas -, prevendo captar segmentos de eleitorado tendencialmente mais à esquerda, “pois estão carentes de representatividade”. “Vamos ver como isto se traduz em votos”, resume a candidata nascida em Angola, que vai reforçar ações de campanha na linha de Sintra.
Em comum, além da capacidade de entendimento com a AD que dizem ser impossível para o Chega, os dois candidatos têm os “valores tradicionais” da direita conservadora e o foco nos problemas sentidos na saúde, habitação e educação. Liber quer uma “imigração seletiva”, enquanto Afonso aponta a escolha da ex-deputada do PAN Cristina Rodrigues como terceira da lista do Chega no Porto, após defender a interrupção voluntária da gravidez até às 16 semanas, como a prova de que o seu antigo partido “não é de direita nem de esquerda”.